quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Em relacionamentos não há falhas. Não há culpas. Há desejos e desvios. Só isso.

De repente, do nada, vindo não sei de onde, aparece um medo de que a relação acabe. Será do nada isso, assim em vão? Acho que não. O que a gente sente é a percepção de que alguma coisa não vai bem. Não apenas insegurança boba. Ficamos inseguras por medo? Ou sentimos medo por que prevemos o perigo que se aproxima?
O que nos deixa no ar é que o sentimento ainda não tem nome , nem tradução. Mas apita dentro dando um alerta. E faz tremer a alma de angústia. Muito além de só uma crise besta de ciúmes, alguma coisa não vai bem. O primeiro impulso é buscar a confirmação no outro.
- Você me ama? Ainda me ama?
Começa por aí. Nem sempre termina muito bem. A gente se culpa por ter estragado tudo. Será? Existe mesmo esse enorme poder? Ele está todo nas nossas mãos? Não acredito.
O outro vai embora porque você falhou? Tem certeza? Olhe em volta. Veja: quantos ficam mesmo assim? Afetos terminam por que eu falei alguma coisa que não devia? Mentira. Não é esse o botão que desliga afeto. Outros ficam mesmo ouvindo montes de besteira todos os dias. Mesmo que , depois de um porre, você vergonhosamente vomite no sapato novo dele.
Casais se formam e se desmancham o tempo todo. Amigos viram namorados. Namorados viram amigos. Uma questão de cumplicidade e tesão? Olha que pegadinha: a mesma rotina safada que aproxima e encanta, cansa , desgasta e afasta.
Tesão não tem chefe, não recebe ordens. Ele indica , a gente segue. Quando o tesão vai embora, besteira guardar aquele lugar. Deixe livre para o próximo. Não lamente, ou lamente. Tanto faz. De qualquer jeito, recomece. Não deu com esse? Siga em frente. Não engarrafe o cruzamento.
O outro vai embora porque eu falhei? Onde foi que eu falhei? Não importa. Quem quer ficar fica. Destranque a porta, abra o trinco. Deixe ir em paz quem precisa partir.
Em relacionamentos não há falhas. Não há culpas. Há desejos e desvios. Só isso. Cada um faz o que pode. Somos ônibus chegando. Sempre tem alguém querendo e precisando pegar. E que bom que é assim.
Preciso ter meu olhar atento para os ônibus que estão vindo. Se olho só para o que passou, vou mofar no ponto . Reclamar da linha. Sem perceber que tenho novas opções . Sempre tenho.
Sofra um pouco, se é o que seu coração pede. Horas de luto são necessárias em casos de despedidas. Ajudam a digerir a perda, avaliar o que passou, elaborar a situação. Mas não se enterre junto com o amor acabado. Aproveite o velho e adube o próximo.
Por: Mônica Raouf El Bayeh
In: http://extra.globo.com/mulher/um-dedo-de-prosa/

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