segunda-feira, 7 de julho de 2014

Opinião: Copa das Copas revela para o mundo o encanto do Brasil

Jogadores de todas as seleções se apoderaram de uma força estranha, como na famosa música
                                                Getty Images
Algo incrível está acontecendo nesta Copa do Mundo de 2014. Um país está mostrando ao mundo muito mais do que as lindas paisagens, o calor humano do povo ou as mazelas de uma população. O Brasil está deixando todos intrigados, ao expor uma novidade que não se pode ser vista a olho nu.
É um maravilhamento invisível que paira oculto na atmosfera. Uma força estranha, como na música de Caetano, repleta de caráter transformador. Que carrega um encanto. O planeta está rendido, abismado, somente agora entendendo, ou melhor, intuindo, o porquê de aqui ser o país do futebol.
Talvez seja uma revelação tão profunda como a de Moisés, que,do Monte Sinai, sob ventania e trovoadas, apresentou as tábuas das leis aos judeus. Ou tão desejável como a busca da fonte da juventude pelo explorador Ponce de León, que, extasiado diante das cores e flores de um lugar na atual América, chamou tudo aquilo de Florida. Esses fenômenos se irmanam por tocarem na essência humana.
Os países que estão disputando este Mundial, experimentam aquilo que já estamos tão acostumados e que, por isso, nem percebemos mais existir: um elixir, a fonte de nossa existência, tão presente na nossa ginga, no nosso drible, na nossa dança, na nossa música, nos nossos campos, na nossa bola. Uma interação plena do corpo e da alma a comunicar perfeitamente verdades não verbalizadas.
Não é à toda que, ainda em primeira pessoa, nosso hino, tão aclamado à capela, contém a sábia frase: nossos bosques têm mais vida. Um espectro dos deuses sagrados do futebol, que fizeram daqui o seu Olimpo, está se manifestando bem mais intensamente do que algumas manifestações marcadas artificialmente.
Então, assim, até um jogador sem molejo, enrijecido, sai jogando aqui, e consegue se apoderar de uma energia que o faz dar dribles sensacionais, arrancadas, fazer gols de direita, de esquerda, de voleio, de contra-ataque mortal, com toda equipe correndo em harmonia, como se fossem passistas de uma cerimônia de abertura fascinante. A Copa do Mundo no Brasil está sendo uma coreografia do que o brasileiro tem de melhor.
Está acontecendo isso. O futebol, como um todo, redescobriu o Brasil nesta Copa. Todas as seleções, como se estivessem em uma Disneylândia de sonhos, passaram a ter uma relação íntima com a bola, potencializada pela atmosfera que reina no país. E interpretada com a vibração da torcida, uma espécie de reflexo de toda essa beleza dos gramados.
Não há um jogo que não esbanjou emoções nesta competição que, disparada, já é a Copa das Copas, por toda esta fantástica emanação que floresceu em todos que dela participam. Não duvido que haja jogadores que se olham no espelho e não mais se reconhecem. "O que estaria acontecendo comigo?", perguntam-se. "Que semblante de vida é esse, que nunca vi estampado desta maneira no meu rosto?"
Pois bem. Os atletas vestiram esse clima, como um uniforme oculto ou um doping natural que acendeu algo neles. O jogo está tão solto tal qual as peladas organizadas nos morros do Rio de Janeiro, composta de meninos serelepes, calejados, que driblam a miséria, que emanam ritmo, que pulsam como o samba.
As seleções estão contagiadas por esta energia. Ao contrário do que muita gente temia, o mundo, outrora cético, se coloca aos pés de nossas maravilhas. Está embasbacado ao ver os saltos de seus goleiros, peixinhos impossíveis, viradas sensacionais, piques mais velozes do que os de Bolt, cobranças certeiras, placares elásticos, movimentações constantes até nos 0 x 0. Como, por mais apaixonado que seja pelo jogo, nunca viu antes.
Aqui nesta temporada de Brasil, embevecidos pelos braços acolhedores do povo, que também fazem parte deste cenário, todos estão percebendo que o drible não é uma jogada concreta. Ele não é construído. Ele emana. E, bobos que não são, estão se aproveitando deste alimento espiritual.
Lembre-se, porém, que tal troféu ostentado por aqui não alcança somente as estantes da Fifa ou as estatísticas futebolísticas. Não se resume a pentas ou hexas. Essa áurea simplesmente explica o Brasil, sem palavras, sem números.
E tem o poder de se propagar para além das galáxias, ultrapassando o silêncio do espaço sideral. Onde, até o mais solitário dos astronautas, sem ouvir, pode perceber o momento em que emerge a emoção de um grito de gol. Quando acontece, ele nem tem dúvidas de onde isso vem. De terras brasileiras, é claro.
Por Eugenio Goussinsky, do R7, in: http://esportes.r7.com/futebol/copa-do-mundo-2014/opiniao-copa-das-copas-revela-para-o-mundo-o-encanto-do-brasil-22062014

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