sábado, 16 de março de 2013

Navio Negreiro - Parte VI


Dia Nacional da Poesia, 14 de março, dia em que nasceu, no século XIX, o poeta Castro Alves.  Antônio Frederico de Castro Alves, baiano de Curralinho.  Poeta romântico, suas poesias de cunho social profundamente comprometidas com a opressão do/ao povo brasileiro, em especial com a escravidão.

Postamos aqui a parte VI de Navio Negreiro, escrito - e clamado corajosamente por ele, aos 21 anos, em uma comemoração cívica, diante de contrariados fazendeiros - em 1868, duas décadas antes de ser formalizado o fim da escravatura no país.  Lembramos - não sem lamentar - que, 145 anos depois, ainda precisamos repetir: "Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga / Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! / Andrada! arranca esse pendão dos ares! / Colombo! fecha a porta dos teus mares!"

VI
      
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio.  Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... 

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!... 

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita e por colaborar conosco! Continue participando!